quarta-feira, 24 de julho de 2013

Sobre "ser adulto", liberdade e inveja

Uma amiga minha, comentando um artigo publicado em um blogue, "reclamou" do fato de muitas vezes ouvir que ela ainda não sabe o que é ser adulto. E questionou se as pessoas que lhe dizem isso sabem melhor do que ela o que é. Mesmo sem que a questão tivesse sido feita a mim, aventurei-me a respondê-la. E é o texto dessa resposta (com adaptações) o que segue.

Por não conhecer as pessoas a que ela se referia, disse-lhe que era impossível falar propriamente sobre elas. E que, na verdade, apesar de nossa amizade, até mesmo sobre ela. Então, escrevi sobre o que percebo de modo geral.

Na verdade, o que pessoas que costumam fazer esse tipo de afirmação estão dizendo, algumas sem sabê-lo, é que "você não sabe o que é ser o que eu penso que é ser adulto". E, óbvio, (escondida) por trás dessa afirmação, que já está (escondida) por trás de outra, está o fato de que elas se julgam adultas. Sem saber, claro, que talvez ainda não o sejam.

Há uma outra possibilidade: a de que elas sejam, realmente, adultas, mas do jeito que elas escolheram ou que lhes foi possível, que lhes foi permitido, pelas mais diversas circunstâncias das suas vidas.

De um modo ou de outro, o que elas com certeza não sabem é que são várias as formas de "ser adulto".

Eu, que já me encontro numa idade que a grande maioria chama de madura (e não digo isso para me colocar em posição de superioridade ou de maior conhecimento da vida), não sei o que é "ser adulto". Logo, também não posso saber se sou. Acho, repito, acho que sou, sim, "mais adulto" que antes, porque amadurecimento é processo e, portanto, algo inconcluso.

Quando digo "mais adulto", não digo melhor, digo apenas que me conheço mais. Mas penso que ainda há o que conhecer e que, por isso, não espero nunca estar maduro, no sentido de "pronto", "acabado", até mesmo pelo significado funesto que "acabado" pode ter.

Aprendi com a filósofa Hannah Arendt (e também com a vida, com a minha vida, e a duras penas) que a pluralidade é a lei da terra e que "a ação corresponde a [essa] condição humana da pluralidade, ao fato de que homens, e não 'o homem', vivem na terra e habitam o mundo" (grifo meu) e que "a ação [que] é sempre imprevisível, tem apenas um sentido: a liberdade dos que agem".

Para aquelas pessoas, talvez, "ser adulto" signifique abdicar da liberdade e, logo, deixar de "agir", naquilo que isso tem de exercício da liberdade. Já, para outras, entre as quais está incluída a minha amiga, também talvez, "ser adulta" ou, melhor dizendo, "ser a <fulana de tal> adulta", signifique exatamente o contrário. Por essa completa diferença de concepção é claro que, para aquelas pessoas, estas, e também a minha amiga, não são "adultas".

As pessoas que eu conheço e que fazem afirmações como essa - e elas são muitas, na verdade a maioria, e não necessariamente as mais velhas (essa referência se deve ao fato de que a minha amiga é jovem, tem cerca de metade da minha idade) - não assumiram, ou ainda não assumem, a responsabilidade de fazer escolhas ao longo de suas vidas. Deixaram que outras fizessem por elas. Ou seguiram um padrão preestabelecido, ao qual preferiram se conformar. E acham que todos devem fazer o mesmo.

Creio que a razão desse desejo de que todos ajam de forma idêntica é psicológica. Sim, arrisco-me a pensar que o que provoca esse desejo nessas pessoas é, no fundo, uma grande inveja de quem tem a coragem necessária para fazer escolhas, tomar decisões, correr riscos, errar e, às vezes, "sofrer" as consequências. É um engano, na minha opinião, acreditar que só existe inveja pelo nosso sucesso ou por nossas alegrias. Há muita gente por aí morrendo de inveja do "sofrimento" dos outros, por saber que esse "sofrimento" é resultado do exercício da liberdade.

Um comentário:

  1. Belo texto amigo, li e concordo com a tese exposta sobre a maturidade
    Abraçoss

    Sandro Braga

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